sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O livro errado

O estudo A Leitura em Portugal, da responsabilidade do Observatório das Actividades Culturais no âmbito do PNL, devolve a seguinte conclusão: os frequentadores de bibliotecas rondam 1,3 milhões, sendo a grande maioria estudantes do ensino médio e superior, com idade compreendida entre os 15 e os 24 anos.

Não deixa de ser curioso que, em 2001, Ana Mocuixe Moura(1) tenha chegado a conclusões semelhantes, analisando a Biblioteca Municipal de Oeiras: 60% dos utilizadores tinham idades compreendidas entre os 18 e 25 anos e 14% pertenciam à faixa etária 0-18 anos, sendo as obras consultadas, à altura, as seguintes e com os rácios correspondentes:

28,9% - monografias técnico-profissionais;
27,2% - dicionários ou enciclopédias;
26,4% - livros escolares (p.ex., os exames de química para o 11º ano);
17,2% - estudos ou ensaios.

Conclui-se o óbvio: os jovens faziam (e continuam a fazer) uma utilização puramente instrumental da biblioteca pública. Dá jeito para estudar, é sossegada, tem net à borla, logo… está-se bem!

E nós? Cumprimos a nossa função, proporcionando-lhes essas condições. E também se está bem… ou mais ou menos bem. E porquê? Porque somos péssimos vendedores de ideias, de conceitos. A promoção da leitura é o nosso mister, temos o público-alvo à mão de semear, e ele foge-nos por entre os dedos.
Se 29% dos utilizadores gostam muito de ler, a partir do secundário até ao superior (ver post anterior) e se, em Portugal, temos 1 265 531 de indivíduos entre os 15 e os 24 anos (dados do INE), então ainda há 898 000 adolescentes e jovens adultos a quem temos de dizer: leiam! E não será assim tão difícil: pelo menos já os temos dentro de portas, agora é só pôr-lhes o livro certo nas mãos!
foto aqui

(1) MOURA, Ana Mocuixe – Práticas de leitura, jovens e novas tecnologias : a Biblioteca Municipal de Oeiras. [Lisboa] : Instituto Português do Livro e das Bibliotecas : Observatório das Actividades Culturais, 2001. (Sobre a leitura ; 1). ISBN 972-8436-21.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo,

que post interessante e que acho que devia fazer reflectir todos, começando pelo Ministério da Cultura.
É importante relembrar que a RNBP existe, mas não está completa e a funcionar em condições, ou seja, existem Bibliotecas que não têm documentos, quanto mais actualizados, não têm recursos humanos e não têm investimento. Falta ainda acrescentar que não têm ainda fiscalização, que existia na Rede da Gulbenkian.
Não venho como vejo religiosamente em diversos fóruns profissionais da área das Bibliotecas Públicas carpir nas nossas carências, porque como bem dizes, é também responsabilidade dos profissionais lutarem diariamente pela melhoria dos serviços aos utilizadores, falta o que alguns chamam de "Profissionalismo", penso que existem muitos amadores por aí...
Porque em relação aos números serem semelhantes aos de 2001, acho perfeitamente possível, essa situação acontece no resto das actividades culturais e educacionais, como tal, toca a arregaçar as mangas e a continuarmos o nosso caminho. Este na minha óptica deverá ser: Pedir meios, mas justificá-los com o crescimento dos serviços aos utilizadores.

Um abraço e força

Nuno Ferreira

Gaspar Matos disse...

Caro Nuno,

Antes de mais, parabéns pelo encontro do Oeste!
Quanto a arregaçar mangas, pois há que o fazer, nomeadamente no que a adolescentes e jovens adultos concerne. No post "Vinte e Nove" mencionava a percentagem de alunos que dizem gostar de ler - esses mesmo 29%. Óptimo, vamos "pegar" por aí e tentar alavancar esse rácio!

Um abraço e vai aparecendo!

Gaspar Matos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
AL disse...

Começaram ontem na biblioteca da ESAG (Escola Secundária António Gedeão, em Almada/ Laranjeiro)as sessões de LEITURA EXPRESSIVA. Será uma maneira de divulgar escritores e fazer crescer água na boca para futuras leituras, esperamos...
Mais informações em:
http://esagbib.blogspot.com/

Gaspar Matos disse...

Parabéns, "mosqueteira", pela iniciativa.
Vou ver essas "Mais informações em" :-)
Um abraço!