sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Psicologia Musical

Nem só de livros e leituras vivem as bibliotecas. Aliás, deve-se facilitar o acesso às diferentes formas de expressão cultural das manifestações artísticas, segundo o Manifesto da Unesco para as BP’s. A música revela, assim, particular importância para a manutenção de uma colecção apelativa a adolescentes e jovens adultos. No número de Junho da Psicologia Actual encontra-se um interessante artigo de Mariana Pessoa, a propósito de psicologia musical:

A adesão a um estilo musical específico é típica da adolescência. Há, inclusive, características externas que os adolescentes expressam no sentido de demarcar a sua pertença a esses grupos e subculturas (…) um determinado estilo musical pode influenciar comportamentos, especialmente nos adolescentes, tendo um papel modelador de atitudes sociais (…) tendo em conta a importância que a música tem para os jovens ao expressarem uma preferência por um estilo de música, os adolescentes enviam explicitamente uma mensagem que implica um determinado leque de atitudes, valores e opiniões.”

Estima-se que, por exemplo, os jovens americanos ouçam uma média de 3 a 4 horas de música por dia. Considerando os efeitos da globalização, os jovens portugueses não fugirão muito a estes indicadores. Em 2003, Jean-François Hersent divulgava dados relativos às práticas culturais dos adolescentes franceses: 80% tinham um equipamento portátil (walkman, discman) e 94% discutiam regularmente os seus gostos musicais com os amigos. Fugir a estes indicadores é ignorar os gostos e preferências do público para o qual trabalhamos e, consequentemente, afastá-los das bibliotecas públicas.

E como fazer a ponte, se a promoção da leitura é o principal objectivo?

Talvez se os adolescentes souberem que Radiohead, Tool, David Bowie, The Cure, U2, The Doors, Iron Maiden, Pearl Jam, Greenday, Coldplay, Franz Ferdinand, Incubus, entre outros, têm álbuns e músicas baseadas em obras literárias, as coisas mudem um pouco (ver aqui). Quiçá se conhecerem o último CD de Carla Bruni – No Promises –, que canta poemas de W.B.Yeats, W.H.Auden, Emily Dickinson, Walter de La Mare, Christina Rosetti e Dorothy Parker, a poesia tenha outra sonoridade. Saberão os jovens adultos que boa parte das letras dos Gaiteiros de Lisboa foram retiradas de cancioneiros tradicionais? E que as novas vozes do Fado cantam O´Neill, Pessoa, Florbela Espanca, Antero de Quental, David Mourão-Ferreira ou António Lobo Antunes? Se calhar não sabem. E se souberem?

P.S. – Sugere-se leitura do artigo mencionado e, já agora, da revista, em que os contributos sobre a adolescência e juventude são particularmente relevantes. Aqui fica a referência: PESSOA, Mariana – “Diz-me o que ouves…”. Psicologia actual. N.º 14 (2007), p. 94-99.
foto aqui

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