domingo, 13 de dezembro de 2009

Elevar a fasquia


Quando se fala de promoção de hábitos de leitura, a discussão raramente será pacífica. Recorda-se, a esse propósito, o frente-a-frente entre Francisco José Viegas e Isabel Alçada (aqui). O bibliotecário, quando recomenda a um utilizador de 16 anos uma qualquer obra, não o faz de ânimo leve: entretanto inquiriu acerca da experiência de leitura sob várias perspectivas (frequência, temáticas, géneros literários) e, se a escolha cair algures entre sangue e incisivos afiados e sobredimensionados, a solução é óbvia: vampiros. E aí, temos oferta basta, com Stephenie Meyer à cabeça. Da qualidade de um Eclipse? Rogério Casanova, num exercício com tanto de hilariante como de brilhante – e esforçado, só os três primeiros títulos da saga perfazem 1616 páginas -, no suplemento Actual/Expresso, tirou o retrato à sequela Twilight, e a apreciação foi bastante negativa.
Cria-se então o chamado "efeito engulho": as perspectivas cumprem-se, de parte a parte, mas uma delas tem consciência de que o ganho para a outra poderia ser bem maior, mais diversificada fosse a oferta. E como se materializaria a mesma? Ao adrian parece-lhe que um aproveitamento da temática em voga – vampiros, dráculas, outro morcegos e sangue q.b. -, seria algo a considerar, assim como a redução da extensão da narrativa, uma vez que uma prosa mais rica, a todos os níveis, exigiria uma maior destreza no exercício da leitura, e uma forma de minorar o esforço do leitor sem hábitos seria diminuir o número de páginas. Para além do mais, tal permitiria um contacto com autores de nomeada, fosse o exercício encetado por nomes de comprovada valia.

A Porto Editora, num acto de generosidade natalícia, satisfez os desejos do adrian. Contos de Vampiros aproveita as preferências actuais (a moda, vá, chamem-se os bois pelos nomes), ao romance de 600 páginas contrapõe com contos de poucas, e convida Pedro Sena-Lino para conduzir a tarefa. Sob sua coordenação, Ana Paula Tavares, Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, João Tordo, Jorge Reis-Sá, José Eduardo Agualusa, Miguel Esteves Cardoso, Rui Zink e Susana Caldeira Cabaço (a única estreante) soltam a pena, narrando sobre indivíduos que têm o mau hábito de terem um fiozito de sangue no canto da boca e escorrendo para o queixo (um qualquer estado de transe impede-os de utilizarem um Kleenex). Poderão encontrar uma boa recensão no Porta-Livros, de Rui Azeredo (aqui).

A aquisição por parte de bibliotecas públicas e escolares é, no mínimo, óbvia, e sugere-se uma mostra bibliográfica (junto ao balcão de empréstimo, p.ex), com a obra em destaque central, devidamente apascentada por outros títulos dos autores. Tipo presépio.

TAVARES, Ana Paula [et al]. Contos de vampiros. Porto ; Porto Editora, 2009. 144 p. ISBN 978-972-0-04293-4.
P.S. – considerando a escassa regularidade de posts, o adrian - à cautela -, aproveita para desejar um Natal cheio de Família e um Ano Novo pleno de Amigos e agradecer os emails, recordando que este ano o 2º aniversário do blogue passou ao lado do autor. Celebrar-se-á o terceiro, em dobro. Um abraço.

3 comentários:

Maria José Vitorino disse...

Belo texto. Boas idéias, escolhidas palavras, fluência e pertinência. Viva o adrian, viva!

Gaspar Matos disse...

O adrian agradece e aproveita para dar os parabéns pelo IASL School Librarianship '09. Viva a MJV!

Anónimo disse...

Bem haja pelo Blog.
A temática vampírica não tem muito a ver com a nossa cultura. Tal assunto resultaria muito melhor na cultura anglo saxónica. Espero que a obra em questão seja editada no estrangeiro.
Aproveito para relembrar um bom conto de José Cardoso Pires reeditado isoladamente pela Dom Quixote: O Conto Dos Chineses.
http://www.wook.pt/ficha/o-conto-dos-chineses/a/id/3049882


Se fosse possível divulgar isto ficaria bem contente.
Atento e grato

Bernardo Sampaio
Lisboa