O adrian recomendou, recentemente, duas obras de carácter biográfico: Uma longa caminhada e A espingarda do meu pai retratam vidas diferentes das dos nossos adolescentes e jovens, existências marcadas pela guerra e pelo sofrimento. Como ambas as sugestões parecem adequadas a um grupo de leitores para as faixas etárias que aqui se destacam e porque a identificação com o protagonista pode ser importante para a apropriação do conteúdo (já lá diz Pennac que temos o direito – inalienável -, de amarmos os heróis dos romances), aqui vão duas dicas para complementarem os destaques anteriores: O diário de Rutka, de Rutka Laskier e Eu quero viver, de Nina Lugovskaia. Enquanto o primeiro se debruça sobre o quotidiano de uma rapariga polaca num gueto judeu, durante os meses de Janeiro a Abril de 1943 (acabando por encontrar a morte em Auschwitz), o segundo aborda a vida da adolescente Nina na URSS de 1932 a 1937, a censura, as perseguições, o terror estalinista e a deportação de toda a família de Nina para a Sibéria. Um excerto da recensão sobre O diário de Rutka (ver aqui), no Bibliotecário de Babel:
“Desengane-se, porém, quem pensar que o livrinho de Rutka é uma espécie de amostra do que se encontra, mais desenvolvido, nos escritos da outra mártir (O diário de Anne Frank). Se as preocupações são as mesmas, o estilo diverge. Não há aqui nada que se pareça com o “Querida Kitty” e o tom é muito mais seco, objectivo, pouco dado a arroubos sentimentais. Rutka tem noção de que está no inferno, de que o cerco se vai apertando e de que dificilmente sobreviverá a uma guerra cuja evolução militar mostra conhecer bem. Se escreve, é para deixar um registo — como quando narra com grande detalhe, seis meses após os factos, uma Aktion de deportação feita pelos nazis sobre os judeus de Bedzin, em Agosto de 1942.”
E a opinião da Time Magazine (ver aqui) sobre Eu quero viver:
“Could do for the horrors of Stalinism what the diary of Anne Frank did for the Holocaust…the tragedy of Nina Lugovskaya is that a lively, compellingly ordinary girl was made to suffer so grievously for being so human.”
Uma sugestão: num grupo de leitores, dar-lhes a elas as obras de Ishmael Beah e Hiner Saleem e a eles as de Rutka e Nina. Depois, podem trocar.
“Desengane-se, porém, quem pensar que o livrinho de Rutka é uma espécie de amostra do que se encontra, mais desenvolvido, nos escritos da outra mártir (O diário de Anne Frank). Se as preocupações são as mesmas, o estilo diverge. Não há aqui nada que se pareça com o “Querida Kitty” e o tom é muito mais seco, objectivo, pouco dado a arroubos sentimentais. Rutka tem noção de que está no inferno, de que o cerco se vai apertando e de que dificilmente sobreviverá a uma guerra cuja evolução militar mostra conhecer bem. Se escreve, é para deixar um registo — como quando narra com grande detalhe, seis meses após os factos, uma Aktion de deportação feita pelos nazis sobre os judeus de Bedzin, em Agosto de 1942.”
E a opinião da Time Magazine (ver aqui) sobre Eu quero viver:
“Could do for the horrors of Stalinism what the diary of Anne Frank did for the Holocaust…the tragedy of Nina Lugovskaya is that a lively, compellingly ordinary girl was made to suffer so grievously for being so human.”
Uma sugestão: num grupo de leitores, dar-lhes a elas as obras de Ishmael Beah e Hiner Saleem e a eles as de Rutka e Nina. Depois, podem trocar.
LASKIER, Rutka. O diário de Rutka. Lisboa : Sextante, 2007. 80 p. ISBN 978-989-8093-38-7.
LUGOVSKAIA, Nina. Eu quero viver. Lisboa : Casa das Letras, 2005. 324 p. ISBN 978-972-4616-16-2.
LUGOVSKAIA, Nina. Eu quero viver. Lisboa : Casa das Letras, 2005. 324 p. ISBN 978-972-4616-16-2.
2 comentários:
Caro Gaspar,
gostei da sugestão de troca de livros entre o grupo de leitores, para troca de ideias. Na BE de Campo Maior este tipo de obras são muito requisitadas e as opiniões são sempre muito positivas. No passado ano lectivo, enquanto discutiamos leituras com um grupo de alunos adultos, assisti a uma «impressão» completamente diferente do «Diário de Anne FranK», que eu tinha lido, aos treze anos e naquele dia foi apresentado por uma aluna de quarenta e cinco. As opiniões divergiram em tudo, mas ambas gostámos do livro.
Continuação de bom trabalho.
Elisabete Fiel
É essa troca de experiências de leitura o "sumo" dos grupos de leitores na sua vertente mais informal (leia-se, modelo anglo-saxónico). Tentarei dar mais exemplos na mesma linha, Elisabete. Obrigado pela visita!
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